O uso e indicação de ‘‘cirurgia através de um pequeno orifício’’ têm aumentado consideravelmente na última década e a cirurgia ortopédica em particular tem sido beneficiada por muitos destes avanços.
Embora considerado como um empreendimento moderno, o artroscópio foi idealizado por Takagi (Japão) em 1920. Com o advento do artroscópio foi possível o desenvolvimento de técnicas que têm permitido ao cirurgião ortopédico o acesso direto a diversas articulações, tornando possível diagnósticos mais precisos e até a realização de pequenos procedimentos cirúrgicos com invasão mínima e recuperação precoce do paciente.
São realizados dois a três portais (orifícios de aproximadamente 01 cm), na coxa em volta do quadril para a introdução da câmera do artroscópio e o instrumental necessário para a realização do procedimento.
Em geral, as lesões do labrum podem ser tratadas com desbridamento ou sutura com auxílio de âncoras que são fixadas ao osso. As lesões da cartilagem são tratadas com regularização por radiofreqüência ou microperfurações naquelas com exposição óssea subcondral.
Antes de se realizar a cirurgia, o paciente deve realizar exames (laboratório, eletrocardiograma, radiografias) que são todos requisitados pelo médico ortopedista ou pelo clínico que o acompanha e que serão avaliados pelo anestesista.
O paciente fica durante um dia internado onde são realizados cuidados de enfermagem, fisioterapia, medicações para analgesia e antibioticoterapia profilática. Ao receber alta hospitalar são orientados exercícios domiciliares (bicicleta ergométrica) e retorno ao consultório após duas semanas para novas orientações, avaliação da ferida operatória e retirada de pontos.
Quanto ao uso das muletas o tempo indicado para seu uso pode variar de 4 a 6 semanas dependendo da gravidade das lesões encontradas e do tratamento realizado. Nova avaliação é realizada com 6 semanas, 4 meses, 8 meses, 1 ano e depois a cada ano.
É essencial o acompanhamento do fisioterapeuta durante todo o período de recuperação pós-operatória. Ele irá lhe orientar, juntamente com o ortopedista, quanto à freqüência e intensidade dos exercícios, bem como início de atividades físicas.
Como em todos os procedimentos cirúrgicos em medicina existem os benefícios, porém existem também os riscos do ato operatório. As possibilidades são que 95% das vezes não ocorram nenhum problema sério. As complicações mais comuns da artroscopia do quadril são:
1 – Neuropraxia (lesão nervosa transitória): há uma perda ou diminuição de sensibilidade ou motricidade no membro inferior ou região pudenda. Há recuperação espontânea,
2 – Infecção: é prevenida principalmente com antibiótico endovenoso, sendo injetado pelo médico anestesista momentos antes de começar a cirurgia e seguido durante a internação hospitalar,
3 – Edema de escroto ou vulva: a tração no membro inferior necessária para ganho de espaço articular no quadril pode levar a compressão na região pudenda. São tomados cuidados como posicionamento adequado na mesa ortopédica e acolchoamento local.
4 – Edema no membro operado: durante a cirurgia é injetado soro sob pressão no quadril para ganho de espaço articular e diminuição do sangramento, porém pode haver extravasamento extra-articular (músculo, pele) aumentando o volume da coxa. Esse líquido é absorvido e eliminado pela urina.
5 – Tromboembolismo: deve ser prevenido com medicações anti-coagulantes e meias elásticas após a cirurgia, exercícios fisioterápicos ainda durante a internação hospitalar e seguidos em casa e na clínica de fisioterapia.
É uma satisfação apresentar-lhe este manual e espero que ele possa ajudá-lo a entender o seu problema e o tratamento indicado. Estou à disposição para esclarecer qualquer dúvida que lhe tenha restado.